sábado, 4 de abril de 2009

Nunca fui bom em me encaixar em grupo algum, sempre prezei pela autosuficiência, acho que desde os tempos da escola nunca fiz questão de pertencer a clubinho algum, não sei se era uma vontade de quebrar as regras de convívio (mesmo que inconscientemente) ou só uma rebeldia infantil, mas o fato era que o convívio social nunca foi uma das minhas prioridades, minha individualidade era o que eu tinha de melhor.
Com os anos, a presença das pessoas passou a me entediar cada vez mais.Viver preso a um determinado nicho social nunca foi solução de merda nenhuma, grupos sociais tendem a ser desprezíveis.
Existe uma determinação da sociedade atual em rotular qualquer ser humano presente nesse gigante ecossistema, seja pela cor da pele, sexualidade, gosto musical, jeito de se vestir ou tamanho da cueca.É deprimente essa necessidade de rotular e massificar tudo, a identidade acaba perdendo o valor pessoal e servindo apenas como identificação social.
O irônico é que mesmo as pessoas que não se aplicam a esses códigos de conduta impostos por determinados grupos sociais acabam recebendo um rótulo, eles usualmente são chamados de "outsiders".
Ser chamado "outsider" ( que em uma tradução livre quer dizer "lado de fora"} acaba por caracterizar alguém como não seguidor dessas convenções sociais de conduta. Mas isso é só questão de ponto de vista, aos meus olhos, "outsider", é aquele que está de fora do meu clubinho ( seja lá qual for ele).
É óbvio que temos coisas nas quais nos identificamos mais, também é óbvio que nossos gostos musicais, literários, cinematográficos, artísticos, futebolísticos e sociais ajudam a fundamentar nossa identidade, mas sermos estigmatizados a um grupo social apenas por algumas afinidades culturais ou códigos estéticos é mediocrizar nossa capacidade intelectual e a nossa própria personalidade.
"Viver na modernidade, mas com os olhos de um medieval" (não lembro o autor dessa frase, mas como ela foi citada por um dos meus mentores intelectuais, tenho respaldo ao usar ela), talvez essa seja síntese da sociedade de hoje, que apesar da velocidade e da quantidade de informação com a qual convivemos, ainda somos presos a necessidades pré-históricas de tribalizar nossas relações sociais.
Roupas, música, corte de cabelo, time de futebol, é tudo besteira, não serve de parâmetro pra rotular ou isolar alguém a determinado nicho social. Enquanto continuarmos nessa merda, presos a pensamentos medievais (ou pré-históricos, tanto faz), eu vou pro bar encher a cara que eu ganho mais.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Velhos Lugares, Novas Perspectivas

Algumas semanas haviam se passado desde aquela noite, estranho como os dias se arrastavam, eu tinha adquirido novos hábitos, minha vida havia tomado um novo rumo.
Passava os dias a vagar pela cidade, estava em busca de algo ainda desconhecido. Seria um novo subemprego onde me entediaria em dois meses? Seria a mulher que seria o novo amor da minha vida pelas próximas três semanas? Ou estava apenas a gastar tempo até o bar abrir e enfim eu me afundar em bebedeiras e assuntos aleatórios com algum estranho?
Apesar dos meus esforços pra não me tornar mais um típico clichê bukowskiniano, admito que me sentia bem com a vida que eu estava vivendo, apesar de não ter nenhuma perspectiva sobre o futuro, pela primeira vez em tempos eu era auto suficiente, tinha controle sobre todas as minhas atitudes. Não sentia mais ninguém sugando minhas energias. Não me entendam mal, eu realmente não possuía sentimentos ruins quanto ela, pelo contrário, essas semanas me fizeram nutrir um carinho enorme, mas o senso de realidade me mantinham longe da idéia de que voltar com ela era uma hipótese a ser estudada.
Passava o dia na minha jornada de passar despercebido junto a multidão que habitava as ruas da cidade, era um exercício de observação e autoconhecimento, a luz do dia, era um obstáculo a ser transpassado, uma barreira que me impedia de freqüentar o bar, contava as horas até o sol se por e eu finalmente me sentir em casa, naquele imundo balcão junto a minha nova família.
Quando noite caía eu sentia um enorme conforto, aquela penumbra me acolhia, eu era mais um componente daquele ecossistema noturno.
A cidade parecia respirar um ar novo à noite, as pessoas se entregavam, os bares cheiravam a sexo ( e a álcool também), o pudor presente naquela sociedade pueril que invadia as ruas com seus ternos bem passados e suas maquiagens discretas sumia numa espécie de busca pelo último sexo de suas vidas.
Eu havia me abdicado dessa busca, as relações sociais haviam perdido a importância, o único carinho que eu nutria era pelo álcool, não procurava amigos - embora tivesse criado um vínculo com o garçom do bar – muito menos alguma desgraçada pra arrancar mais um pedaço de mim. Mas nessa noite havia algo diferente no bar, não identifiquei o que era, pois a jukebox era a mesma, a mesa de sinuca estava lá, os mesmos bêbados falavam dos mesmos assuntos. Foi então que eu vi o que havia de diferente ali, era ela, linda, radiante, uma gota de cor naquela merda preto e branco na qual eu me encontrava, com uma cruzada de pernas me fez retomar toda a fé que eu havia perdido na sociedade, já não importava o álcool, o garçom, o caralho a quatro, não queria pensar em nada, só em um jeito de me aproximar dela.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um típico clichê....

Já era tarde naquela noite fria de terça-feira, acho que era o inverno começando. O ano? O mês? Não importa, quem se atém a detalhes quando se sente que nem merda? Estranho como eu nunca tinha notado aquele bar, ali no meio da quadra, com um neon antiquado iluminando a fachada. È irônico como nos sentimos acolhidos nos piores lugares após uma decepção amorosa.

Lembro que ela disse que não havia mais volta, eu não completava mais ela –ela falou algo sobre não estarmos na mesma sintonia- não respondi, dei as costas, fechei a porta e saí. Definitivamente não assimilei o que aconteceu na hora, só queria sair daquela casa, aquele ambiente tinha se tornado estranho pra mim ( De quem eram aqueles móveis? Quem era aquela mulher ali parada, chorando?).

Caminhei algumas quadras pensando que talvez tivesse perdido a mulher da minha vida. Meu único amor. Pensei em voltar, pedir desculpas, abraçá-la e, quem sabe, ter mais umas daquelas noites de sexo que costumávamos ter após uma ou duas garrafas de vinho. Mas de que adianta desculpas se a sintonia já não é a mesma?

Passeando pelas ruas mal iluminadas do bairro, juro que tentei achar um motivo, uma razão, um ponto de ruptura para o fim daquilo que um dia eu chamei de amor eterno. Depois de alguns minutos de reflexão, desisti, já não fazia diferença. Estranhamente me sentia bem com aquela situação, eu respirava um ar novo, que me revigorava, me deixava mais vivo.

Andava em círculos, passei inúmeras vezes pela frente daquilo que um dia eu chamei de lar, lá estava ela, parada junto a janela, sei que um dia me importei com aquela cena, mas ao vê-la ali parada, com o rosto inchado, com lágrimas ainda correntes pelo rosto, sentia um misto de alívio, desprezo e indiferença.

Já não fazia idéia há quanto tempo estava na minha solitária jornada pelo bairro, mas já era tarde, pois até os tipos mais mal encarados já haviam se recolhido das ruas.

Foi então que avistei aquele neon pulsante a minha frente ( na verdade nem tão pulsante assim, algumas letras haviam queimado, devido a ação do tempo), aquele bar, antes nunca notado por mim, agora parecia um templo, meu mais novo refúgio.
Estranho como o bar tinha um aspecto diferente visto de dentro, todo o brilho do neon na fachada se ofuscava diante do caos controlado que imperava no outro lado. Ao fundo uma velha jukebox tocava um antigo rock’n’roll (Carl Perkins senão me engano), a tensão emanava da mesa de sinuca –os mais variados tipos se encontravam ao seu redor, formando ali uma tênue linha entre a civilidade e a selvageria- nas mesas se via desde casais de meia idade, até prostitutas baratas em busca de algum cliente, cheguei a cogitar a hipótese de ter um sexo barato com alguma delas, mas aquela noite eu buscava a solidão.
Evitei o aglomerado de gente, não queria ninguém ao meu redor, estranho como a presença humana me entediava. Sentei junto ao balcão, com um ou dois bêbados, pedi uma cerveja ao garçom, bebi num gole só, logo pedi a segunda, então o garçom falou:
- Noite difícil?
- Já tive melhores.
- Problemas financeiros ou amorosos?
- Porque seriam?
- Sempre são.
- E se não fossem?
- Bares como esse não existiriam.
Irônico como eu havia me tornado um clichê, será que toda aquela fauna presente naquele boteco de terceira categoria (definitivamente, aquilo não era um lugar de gente decente) estava ali pelo mesmo motivo que eu? Alias por qual motivo eu estava sentado naquele balcão ?
Dediquei a noite a imaginar por qual razão aqueles seres que mesmo de maneira involutária me faziam companhia, bebiam, uma espécie de busca – havia de achar alguém mais miserável que eu- essa foi uma das noites mais prazerosas da minha vida, se havia alguém mais miserável que eu dentro daquele recinto? Não sei e sinceramente não importava, uma das melhores coisas quando se bebe é que as pessoas desaparecem após algumas doses e era isso que eu buscava aquela noite, a serenidade presente na solidão do balcão do bar.