quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um típico clichê....

Já era tarde naquela noite fria de terça-feira, acho que era o inverno começando. O ano? O mês? Não importa, quem se atém a detalhes quando se sente que nem merda? Estranho como eu nunca tinha notado aquele bar, ali no meio da quadra, com um neon antiquado iluminando a fachada. È irônico como nos sentimos acolhidos nos piores lugares após uma decepção amorosa.

Lembro que ela disse que não havia mais volta, eu não completava mais ela –ela falou algo sobre não estarmos na mesma sintonia- não respondi, dei as costas, fechei a porta e saí. Definitivamente não assimilei o que aconteceu na hora, só queria sair daquela casa, aquele ambiente tinha se tornado estranho pra mim ( De quem eram aqueles móveis? Quem era aquela mulher ali parada, chorando?).

Caminhei algumas quadras pensando que talvez tivesse perdido a mulher da minha vida. Meu único amor. Pensei em voltar, pedir desculpas, abraçá-la e, quem sabe, ter mais umas daquelas noites de sexo que costumávamos ter após uma ou duas garrafas de vinho. Mas de que adianta desculpas se a sintonia já não é a mesma?

Passeando pelas ruas mal iluminadas do bairro, juro que tentei achar um motivo, uma razão, um ponto de ruptura para o fim daquilo que um dia eu chamei de amor eterno. Depois de alguns minutos de reflexão, desisti, já não fazia diferença. Estranhamente me sentia bem com aquela situação, eu respirava um ar novo, que me revigorava, me deixava mais vivo.

Andava em círculos, passei inúmeras vezes pela frente daquilo que um dia eu chamei de lar, lá estava ela, parada junto a janela, sei que um dia me importei com aquela cena, mas ao vê-la ali parada, com o rosto inchado, com lágrimas ainda correntes pelo rosto, sentia um misto de alívio, desprezo e indiferença.

Já não fazia idéia há quanto tempo estava na minha solitária jornada pelo bairro, mas já era tarde, pois até os tipos mais mal encarados já haviam se recolhido das ruas.

Foi então que avistei aquele neon pulsante a minha frente ( na verdade nem tão pulsante assim, algumas letras haviam queimado, devido a ação do tempo), aquele bar, antes nunca notado por mim, agora parecia um templo, meu mais novo refúgio.
Estranho como o bar tinha um aspecto diferente visto de dentro, todo o brilho do neon na fachada se ofuscava diante do caos controlado que imperava no outro lado. Ao fundo uma velha jukebox tocava um antigo rock’n’roll (Carl Perkins senão me engano), a tensão emanava da mesa de sinuca –os mais variados tipos se encontravam ao seu redor, formando ali uma tênue linha entre a civilidade e a selvageria- nas mesas se via desde casais de meia idade, até prostitutas baratas em busca de algum cliente, cheguei a cogitar a hipótese de ter um sexo barato com alguma delas, mas aquela noite eu buscava a solidão.
Evitei o aglomerado de gente, não queria ninguém ao meu redor, estranho como a presença humana me entediava. Sentei junto ao balcão, com um ou dois bêbados, pedi uma cerveja ao garçom, bebi num gole só, logo pedi a segunda, então o garçom falou:
- Noite difícil?
- Já tive melhores.
- Problemas financeiros ou amorosos?
- Porque seriam?
- Sempre são.
- E se não fossem?
- Bares como esse não existiriam.
Irônico como eu havia me tornado um clichê, será que toda aquela fauna presente naquele boteco de terceira categoria (definitivamente, aquilo não era um lugar de gente decente) estava ali pelo mesmo motivo que eu? Alias por qual motivo eu estava sentado naquele balcão ?
Dediquei a noite a imaginar por qual razão aqueles seres que mesmo de maneira involutária me faziam companhia, bebiam, uma espécie de busca – havia de achar alguém mais miserável que eu- essa foi uma das noites mais prazerosas da minha vida, se havia alguém mais miserável que eu dentro daquele recinto? Não sei e sinceramente não importava, uma das melhores coisas quando se bebe é que as pessoas desaparecem após algumas doses e era isso que eu buscava aquela noite, a serenidade presente na solidão do balcão do bar.

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